A dor que dóis mais
Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
Martha Medeiros , A dor que dói mais in Trem-Bala. L&PM Editores. 1999.
Quem nunca sofreu por amor! Uma hora ou outra essa dor nos atinge.
A dor do amor pode ser intensa e afetar nossa vida de muitas maneiras. Ela pode nos deixar vulneráveis, trazer à tona emoções reprimidas e nos fazer questionar nossas escolhas. É por isso que é importante abordar esse tema e entender como lidar com essa dor de forma saudável. Seja o primeiro amor ou aquele relacionamento que foi mais profundo, o impacto emocional pode ser significativo e precisamos aprender a lidar com esses sentimentos. Se sente abatido e com uma sensação de nó na garganta. Muitas vezes, ficando até sem perspectiva para o futuro, achando que não há solução para a situação.
Você já ouviu a expressão "Coração partido"? Essa metáfora surgiu a partir da ideia de que, assim como o coração é o centro do nosso corpo e responsável por manter-nos vivos, o amor é o centro das nossas emoções e nos faz sentir vivos. Quando passamos por uma desilusão amorosa, a sensação de que algo dentro de nós foi partido é muito real. Essa metáfora nos ajuda a entender exatamente aquilo que nós sentimos quando passamos por uma desilusão e como o amor é um sentimento profundo e essencial para a nossa existência.
Segundo Freud, o investimento libidinal de um bebê é inicialmente voltado para o próprio corpo, e essa sensação de completude e onipotência só pode ser mantida com o amor dos pais. O bebê acredita que é tudo para a mãe, mas com o tempo, percebe que isso não é verdade, o que resulta em uma desilusão. De acordo com Freud, ao longo da vida, uma pessoa pode se apaixonar e projetar no ser amado a necessidade de completude que sentiu na infância. O objetivo, então, é recuperar essa sensação. Embora essa teoria seja interessante, ela pode não explicar totalmente a dor do amor, pois a dor pode estar relacionada a muitos fatores, como a quebra de confiança ou a perda de um ente querido. No entanto, entender como as experiências da infância podem influenciar a maneira como nos relacionamos com os outros pode ajudar a lidar com a dor do amor.
De acordo com o John Bowlby, a conexão emocional entre a criança e seus cuidadores primários (geralmente os pais) é fundamental para o desenvolvimento emocional saudável. Bowlby acreditava que os bebês são biologicamente programados para buscar proximidade e proteção dos cuidadores, o que lhes permite sentir-se seguros e protegidos. Esse vínculo emocional com os cuidadores primários é chamado de "apego". Quando um apego seguro é formado, a criança é capaz de explorar o mundo ao seu redor com confiança e segurança. Por outro lado, se o apego for inseguro ou interrompido, a criança pode desenvolver problemas emocionais e comportamentais que persistem na vida adulta. Esses problemas podem incluir ansiedade, depressão e dificuldades em formar relacionamentos saudáveis. A síndrome do coração partido pode ser vista como uma forma de apego inseguro que ocorre na vida adulta. A perda de um relacionamento significativo pode causar dor emocional e psicológica intensa, semelhante à dor física. A pessoa pode sentir-se insegura, ansiosa e incapaz de confiar em outras pessoas. Esses sentimentos podem persistir por um longo período de tempo, prejudicando a qualidade de vida da pessoa.
Quando alguém se apaixona, muitas vezes começa a construir uma imagem idealizada da pessoa amada, imaginando que ela irá satisfazer todas as suas expectativas e desejos. Essa idealização pode levar a um afastamento da realidade, criando expectativas inatingíveis e, consequentemente, gerando frustrações e desilusões amorosas. A idealização do amor pode fazer com que a pessoa fique presa em uma fantasia, e quando a realidade não corresponde às suas expectativas, pode resultar em um coração partido. Além disso, não apenas a idealização do parceiro pode levar à dor do amor. O outro pode ter atitudes que nos magoam, desrespeitam ou ferem nossos sentimentos, mesmo que não tenhamos criado expectativas irreais sobre ele. Essas atitudes podem incluir falta de compromisso, mentiras, traições e falta de reciprocidade, por exemplo. Essas situações também podem levar à dor da desilusão amorosa.
A dor do amor pode ser uma experiência muito difícil de lidar, pois pode afetar profundamente o bem-estar emocional do indivíduo. No entanto, é importante lembrar que essa dor pode ser tratada e superada com o tempo e o uso de técnicas adequadas. Algumas técnicas que podem ajudar incluem a prática de atividades físicas, a busca por hobbies e atividades que tragam satisfação, a meditação e a terapia. Além disso, é importante ter um bom suporte social, seja de amigos ou familiares, para ajudar no processo de superação da dor do amor. Com paciência e dedicação, é possível aprender com a experiência e seguir em frente com a vida, mesmo após uma desilusão amorosa. A terapia pode ser uma opção útil para aqueles que estão passando por um momento difícil e precisam de um espaço seguro para processar suas emoções e entender suas causas. O terapeuta pode ajudar a pessoa a identificar padrões de comportamento que contribuem para a dor e a desenvolver estratégias para lidar com esses padrões de maneira mais saudável. O autocuidado ajuda a reduzir o estresse e a ansiedade, além de promover um bem-estar geral.
Além disso, é importante lembrar que a superação da dor do amor não é um processo linear e pode exigir tempo e paciência. É normal que ocorram altos e baixos emocionais ao longo desse caminho. No entanto, com o tempo e as estratégias adequadas, é possível seguir em frente e encontrar amor e felicidade novamente.
As perspectivas para o futuro após a experiência da dor do amor também podem variar. Algumas pessoas podem se sentir mais cautelosas em relação a relacionamentos amorosos, enquanto outras podem sentir uma maior vontade de explorar novas experiências e conhecer pessoas diferentes. Independentemente das escolhas pessoais, é possível crescer e aprender com a experiência da dor do amor, desenvolvendo novas habilidades emocionais e conhecendo melhor a si mesmo.
O quadro clínico da síndrome do coração partido apresenta sintomas semelhantes aos do infarto agudo do miocárdio, como dor no peito, falta de ar, tonturas, vômitos e perda de apetite. Além disso, a pessoa pode sentir raiva, tristeza profunda, dificuldade para dormir, cansaço excessivo e perda de autoestima.
Se a dor no peito for intensa ou a pessoa apresentar dificuldade para respirar, é importante procurar atendimento médico imediatamente, como em um pronto-socorro, para realizar exames como eletrocardiograma e exames de sangue para avaliar a saúde do coração. Além disso, buscar ajuda psicológica também é recomendado, já que a síndrome do coração partido pode causar grande impacto emocional e requer cuidados para a recuperação da saúde mental.